sábado, setembro 20, 2003

Soneto da Fidelidade
Li um poema lindissimo de Nuno Dempster, Indisponibilidade, no A Oeste e recordou-me Vinicus:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do meu amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Melancolia

Assim, não é uma melancolia compacta e opaca, mas sim um véu de ínfimas particulas de humores e sensações, uma poeira de átomos como tudo o que constitui a substância última da multiplicidade das coisas

Italo Calvino - Seis propostas para o próximo milénio

Fly with me

Sentamo-nos, fatigadas com o calor e a humidade, no extremo do mausoleu Tu Duc e contemplamos a harmonia em redor. Repousantes jardins verdes com grandes pinheiros e frangipanis, transmitem-nos paz e equilíbrio. Imaginamos o pequeno imperador, 200 anos antes, preparando minuciosamente cada pormenor do leito, onde finalmente encontraria a velha senhora.
Um casal de holandeses aproxima-se e, imbuído do espírito de empatia entre viajantes (ainda por cima europeus), conversa um pouco.
Entretanto, o nosso amigo junta-se a nós, plenamente satisfeito com as fotografias que deverá ter conseguido dos mandarins e das frangipanis.
Levantamo-nos e calmamente regressamos ao nosso pequeno barco, onde uma vietnamita acocorada sobre o leme, nos levará, através do rio perfume, à cidade de Hue.


Recordações da minha viagem ao Vietname. (Como não sei/posso colocar fotografias no meu blog, neste travelog encontram excelentes imagens de um outro viajante)

quarta-feira, setembro 17, 2003

Esquerda ou Direita ?

Meus queridos, não pensem que venho para aqui hoje dissertar sobre o estado mais ou menos amorfo da nossa Esquerda e da Porta aberta da nossa direita. O meu problema é mesmo ser uma trapalhona e ter baralhado as lentes de contacto.

A Filha da dona do Boris
De tempos a tempos, quando nao me apetece fazer o jantar ou estou com saudades da minha mae, telefono e la´ apareco para comer.
`A entrada, fico logo bem disposta com a recepcao do Boris, voltas sobre si mesmo e aquele olhar de quem espera que o levem `a rua. E la´vou eu, passea-lo ao jardim, onde, ha´mais de 15 anos, ia fumar uns cigarritos com os meus amigos da rua.

Fico sempre espantada quando aparece alguem que nao conhecoo e se aproxima e diz no tom jovial: Ola´ Boris e posteriormente, ja´ num tom mais colocado, me cumprimenta: Boa Noite.

No outro dia, fui ao talho ao pe´ de casa da minha mae (sim a minha mae insistiu que a carne do talho era melhor que a do hipermercado). Entrei e pedi carne para strogonof. O empregado ia para tirar a peca da carne, quando o dono lhe diz: Deixa que eu atendo. Pensei que ia ter tratamento VIP e la´ esperei ate´ ser atendida. Enquanto o senhor cortava a carne, perguntou-me: "A sua Mae, gostou do jogo de inauguracao do novo estadio de Alvalade?" Fiquei perplexa, como e´ que o Senhor sabia quem eu era. Depois, claro, percebi, o Boris esperava-me a´ porta.

Um desabafo

Ameaça de terrorismo no 2004 em Portugal?
Respiro de alívio pela confirmação que Portugal tem um "expert" na matéria ....Nuno Rogeiro
(heheheheheheh)

Pensa bem

1)Ele adora ir para Cuba sózinho, porque será ?

2)Ele sai todas as noite cheio de gel e perfume.

3)Ele não sabe onde está o Saca-rolhas.

4)Ele acha que devo ser eu a acarretar com as despesas da casa.

5)Ele não sabe o que é uma fralda.

6)Quando lhe telefono Ele diz:- "Sim, Querida ?" e em seguida diz: " ah! és tu ?"

Esclareçam-me. Porque me dizem : Divórcio? Pensa bem, tens uma filha pequena.

Apaga o Cigarro Louise!

Acabo de ouvir a notícia na Sic Notícias que um colaborador do Museu de Motas (Inglaterra) apagou mal um cigarro à porta do Museu. Até senti um arrepio! E não foi a pensar na relíquia do Museu que ficou em cinzas. Sabem quantas vezes eu saio de casa e a pergunta aparece no meu cerebelo: "apaguei o cigarro?". De vez enquando lá volto a casa para me certificar que tudo está bem, outras mortifico-me a pensar, " se calhar é hoje que ficas sem casota".

Pode ser paranóia mas que chateia chateia.

O carro (que por acaso pretendo vender) está recheado de pequenos "buaquinhos", o meu sofá lindo já tem as suas cicatrizes, aquele sobretudo beje que me cai tão bem........ai!!!!! Ai! Ai! Tem sido um crescendo, uma infestação de "buaquinhos" nos meus haveres........ e já nem quero falar nos meus pulmões.
Arre!

(nem) Todas as mulheres gostam de flores

Dizem que as mulheres adoram que lhe ofereçam flores...eu sinto-me um pouco a excepção à regra.
Este sentir fez-se notar quando estive internada no Hospital e Elas chegavam, chegavam e eu no meio delas com um ar de incompreensão.
Questionava-me porque é que os meus entes queridos e outros que tais, insistiam em me dar a sensação de assistir ao meu próprio funeral. Chegava mais um ramo e eu já alucinava a vê-lo pousado em cima do meu caixão. (acreditem que é uma sensação de rídiculo, estarmos com uma cara de merda mascaradas de havaiana com tanta cor e formosura)

Será que as pessoas não percebem que quando estamos encarcerados na ausência da vida, necessitamos é de receber algo que nos desperte para o Mundo lá fora?

Mas como se diz..." A vida continuou.." E as flores fazem muitas vezes parte da troca de amores. Claro que fui apelidada de insensível, fria, pouco feminina etc etc e gerei incompreensão no Outro devido à falta de euforia e encantamento na recepção de uma ramo de flores.

Esta semana recebi rosas brancas e quebrei este feitiço. Fiquei encantada, emocionada; conclusão fiquei em ...ada.
Obrigada meu Amor.



Musa

Aqui me sentei quieta
Com as mãos sobre os joelhos
Quieta muda secreta
Passiva como os espelhos


Musa ensina-me o canto
Imanente e latente
Eu quero ouvir devagar
O teu subito falar
Que me foge de repente

Sophia de Mello Breyner Andressen

Para o Peter Pan

Recordação Agradável

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Sugestao de um blog

Hoje fiquei em casa, nao a ver o big brother mas a ler outros blogs. Fascinou-me a conscistencia e honestidade de A origem do Amor .

Juro que nao e´para ele nos colocar na sua lista de beija-flores nem de aves por classificar mas vale a pena ler as suas cagadelas.

terça-feira, setembro 16, 2003

Sugestão de um filme

Fui ver o Blue Car no Quarteto. Li brevemente a sinopse e temi sentir um deja vu. Mas o filme revelou-se interessante. Meg, uma adolescente de 18 anos, aprende poesia com o seu professor de inglês. Mas o que Meg vai realmente descobrir é que as palavras por vezes não são mais que jogos feitos por quem as não vive.

domingo, setembro 14, 2003

Sugestao de um livro

Acabei de ler o Equador de Miguel Sousa Tavares e gostei muito. Retrata a vida em Portugal e nas Colonias (S. Tome e Principe) no inicio de Seculo. Senti o cheiro de Africa depois de uma chuva tropical, revoltei-me com a escravatura nas rocas e com a hipocrisia da vida mundana da burguesia ... Lembram-se dos Maias...

Enfim o romance e´ um pouco artificial e o fim um pouco precipitado, mas vibrei com o humanismo e integridade da personagem principal - o governador, Luis Bernardo Valenca e com todo o drama leal, construido com o seu amigo e oponente (mas nao rival), o consul ingles:

" - O que achaste dele?
- Que vai ser desagradavel te-lo como adversario.
- E vai ser fatal te-lo como adversario?
- Segundo percebi as instrucoes que lhe deram, sim. Trata-se, aparentemente de um cavalheiro numa missao insustentavel, ao servico de uma causa que nao tem defesa. Nem sei mesmo o que o tera trazido aqui e feito aceitar este servico.
- Talvez alguma coisa de semelhante que nos trouxe a nos - respondeu ela, impiedosamente, e David calou-se, nao encontrando resposta para lhe dar. Consciente da dureza do que acabara de dizer, Ann encostou-se a ele e foi assim, sem mais palavras, que adormeceram para a sua primeira noite no Equador. "





Hoje é o primeiro dia
Leio o post "há magia por dentro do que vive, o próprio desencontro reafirma a eternidade que sonho " em litle black spot e como aquelas palavras fazem eco em mim e recordo a música de Sérgio Godinho:

A princípio é simples anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo e dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se e come-se se alguém nos diz bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vem cansaços e o corpo frequeja
molha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso por curto que seja
apagam-se duvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Entretanto o tempo fez cinza da brasa
outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Check in...check out

Check in
Check out

Check in
Check out

Ficas sereno à espera que eu faça check in na tua porta de embarque. Pode demorar um mês ou anos! Quando o faço, ouço um "olá miúda" e recebo um abraço forte.

Quando faço o check out ouço "Foi muito bom ter-te assim de novo" e recebo um abraço forte.

Imaginas que eu tenho uma outra rota muito bem definida para percorrer.
Mas não tenho. Depois do check out nunca sei para onde ir.
O meu corpo fica insuportavelmente só e frio na fila de uma bilheteira, num enorme aeroporto repleto de gente....