quinta-feira, agosto 04, 2005


quando o telefone toca (amarguinha I)
cheguei ao trabalho atrasada depois de uma semana em casa. motivo: nojo. ela tinha morrido. tentando aparentar algum aprumo, inteirei-me do projecto x. y. z.; em todas as reuniões começava por dizer______estive fora: ela morreu___e ansiava pelo momento de contar detalhe por detalhe como foi, o que senti, o que consegui fazer, o que ficou no buraco negro da herança. rapidamente ouvi uma frase feita seguida de outra magnifíca para introduzir a mudança de tema e afugentar a oportunidade. mantive-me aprumada e concentrada. sozinha não me atrevia a pensar que ela tinha morrido. tentei as tipas mais coscuvilheiras lá do sítio mas alguém tinha trazido um daqueles catálogos de cosméticos com muitas novidades para a mudança de estação___
no café almirante depositei a minha esperança, a troca de palavras simpáticas dirigidas a uma cliente habitual, a pergunta por onde tem andado, a resposta introdutória do discurso prestes a parir e a entrada de um grupo de malta enchendo de alegria o ar, abafou a atenção depositada em mim.
voltei para o trabalho, pensei que o melhor seria ligar a alguém, mas num gesto obsessivo digitava sempre o número dela.
mas lá pelas cinco da tarde o meu telemóvel tocou e uma voz muito simpática contou-me que estava a fazer um estudo sobre hábitos de consumo__________ e eu agarrei a oportunidade.