quarta-feira, julho 07, 2004

Hoje à noite III

Esperas. sim, ficas aí olhando-me em cima da mesa da cozinha. olhas os meus medos entranhados na derme. a minha incerteza na epiderme. esperas. dispo-me para que me possas olhar toda. sei que gostas mais dos pormenores do que das evidências. Por isso deixo-me estar aqui. na mesa. pedestal. com as tuas mãos quentes fechas os meus olhos. por momentos penso que estou só. acordo com um toque de barba, pica-me como uma amora silvestre. e a boca amora diz que eu cheiro a canela provocando-me sorrisos de arrepio.
Da varanda ouve-se o espanta espíritos. é hora dos pescadores partirem.
uma chuva de amoras com cheiro a canela provoca hesitações nos cascos em avançar.

Sem rede, vou descansar no casulo da tua alma.

(não resiti à mistela das cores)

Hoje de manha assim a pressa III. palavras do Wilson
(depois de Hoje de noite II.)

Os teus seios são paisagens marítimas. Ondas onde repouso o meu sono meio acordado. Transpiro. É uma espécie de febre o que sinto. Mas que prazer transpirando na tua pele doce e quente. A rede baloiça ao som de Jobim e os nossos pés dançam redescobrindo-se enroscados. Que estranho dirão os veraneantes espreitando. Nunca nenhum búzio lhes cantara assim o som dos mares profundos. Uma loucura tranquila de algas ondulando aos ventos. Areias subtilmente voando sobre a duna. Outros búzios. Conchas. Nós na varanda sobre a manhã acordando. Só para esperar mais uma noite. Lentamente. Saboreando páginas trocando palavras gestos. Olhares. Aguardando aquele café só nosso na varanda sobre os escuros sons das ondas batendo o cais de madeira. À noite. É de lá que partem os pescadores para o mar. E é de lá que te espero. Vem para casa.

as palavras do troblogdita
é maravilhoso e aterrador: os dedos que desenham magia no nosso corpo pesadamente concreto são por vezes os que têm a faculdade de nos agregar num corpo íntegro com o sentido que os nossos sentidos não lhe reconhecem... se esses dedos nos abandonam

as palavras de Benno

Depois de me engalfinhar nesta luta inconsequente chamada amar, me sinto restos e escombros. Depois, dormir e sonhar, e amar novamente nos sonhos. Ainda bem que a razão que me envolve na vigília não conspurca meu sonho e o sonhar acordado do embate romântico.