sexta-feira, outubro 31, 2003

Vermelho

hoje não.

para amanhã não. para um outro dia.

hoje já me bastou deitar a língua de fora quando me vi ao espelho. procurava as amígdalas vermelhas que às vezes me sufocam.



Branco

o lençol é branco.

o meu corpo é macio.

o cheiro do silêncio apazigua-me e

hoje o silêncio é branco.


a minha voz repousa no lençol e abraça o silêncio.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Azul

Estou na rua.

O vento diz que vai ultrapassar o limite de velocidade numa desgarrada com aquele abominável letreiro na Via de Cintura Interna que indica a velocidade máxima.

tanto movimento, brusco, irado- perscruta o meu olhar atento

às vezes é mesmo assim.

é preciso muita arte para se ser subtil e não ser um reles manipulador.

Perante este cenário, procuro um resguardo. Abro o meu livro de memórias________viram, ouviram, sentiram o Azul do Krzysztof Kieslowski ?

_________________________________troco o breu pelo azul

_________________________________o olhar atento pelo mergulho:

_________________________________toco com as mãos no fundo da piscina e umas mãos

invísiveis fazem-me balançar__________e o meu corpo começa a dançar debaixo de água tentando

acompanhar o Coro:


though I speak with tongues of angels,
If i have not love...
My words woud resound with but a tinkling cymbal

And though I have the gift of prophecy...
And understand all mysteries...
And all knowledge...
And though I have all faith
So that I could remove mountains,

If i have not love
I am nothing.
............................

terça-feira, outubro 28, 2003

Geometria

Um triangulo equilátero. Os extremos distendem-se, vira recta. Conjunto de pontos rígidos, colados num fio, gargantilha. Serpenteiam itinerantes, desagregam-se. Microcosmos procurando outros vestígios eléctricos, comboios urbanos. Novos caminhos, novas paragens.

A Tua Ausência

Na tua ausência, sinto o frio. O tempo fluiu sem cor, sem luz, sem cheiro, sem alma.

domingo, outubro 26, 2003

Viagem ao Longo da Avenida de Comboio


Sempre nos incutiram que na viagem da nossa vida somos nós que escolhemos o caminho e como o vamos fazer.

Com tanta liberdade expressa no parágrafo arriba, pergunto-me como é que uma vida tão cheia de expectativas, descamba neste autêntico beco sem saída em que os dias se tranformam em meses, meses em anos e os anos em vida e o quanto me é difícil vislumbrar a merda da tabuleta que diz Saída .

Imagino então, que no início deste longa avenida de vida, me depositaram na entrada da Estação de S. Bento. gatinhei, e deparei-me com a primeira dificuldade: uma longa lista de comboios (diferentes destinos) e comecei a minha vida na fila de uma bilheteira.
naquele momento escolhi o que me pareceu mais aliciante. muitas pessoas entraram comigo.

Não consegui descobrir ainda, qual foi a paragem que me passou despercebida. talvez uma das expectativas do bébé fosse já a morte.

Por agora, voltei à estação, ainda estou a mirar o Rol de partidas para hoje.

Sei que o bilhete está mais caro, porque agora tenho que acrescentar ao preço base o preço da mudança.



Nota: o comboio podem vê-lo numa imagem do blog: Escrita Solta.
A longa avenida está no blog: Ao longoda Avenida
O despertar destas palavras devo-as a Luiz Ferro Moutinho.

Mais um pedido de "perdão" pelo uso e abuso das vossas palavras e imagens.

Patins

O Pedro tem o sonho de dormir com duas mulheres. essa imagem provoca-lhe uma erecção orgulhosa, seguida de um orgasmo, que o gel de banho em duo com a água do chuveiro, parece querer apagar.

O "sonho de todos os homens" - dizem por aí.

O Pedro quando olha para a sua mulher sabe que Ela não irá fazer parte desse trio. Existem muralhas que se devem manter. Era começar algo que desde o início se sabe que não se vai controlar.

Era como,

calçar pela 1ª vez uns patins e ter que correr para socorrer quem se ama.


Nota: Peço "perdão" por este post ao Blog EscritaIbérica que me serviu de inspiração.
Descobri este blog há muito pouco tempo. Tirei uma listagem de todos os post e deliciei-me com a sua escrita.