quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Escrever fora de casa (V)

Tem que haver mar.
Andar na avenida ao ritmo que me é imposto
Com a música de fundo que entra em mim como comando à distância
Por isso
tem que haver mar
para retornar a mim.
leio-te o meu livro. e quando me sentes cansada ,
passo a ler o teu sinal. abandono o livro na minha barriga. não sei quanto tempo te vais demorar no sentir da cor do meu corpo. às vezes
a tua boca molha o meu mamilo para eu sentir frio e te querer mais. ou me falas baixinho. ou agarras a minha coxa com força. ou fazes de meu cobertor. ou és um mar agitado ou um mar calmo.

na lareira. é outro ritmo. é o nosso ritmo.
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comentário ao comentário do Wilson:

gosto da cidade ao fim do dia. num cinzento-prateado que invade aquele por-de-sol. tem que haver mar. calmo ou agitado que não sou de ideias fixas. nem gostos. pode ser imaginário. tem que ter espuma marcando o compasso das ondas. a amplitude. a cidade é energia mesmo que adormecida. é uma avenida em linha recta. é correria. é ruído. gente. e depois é o contrário. da cidade fica-me o teu corpo à beira-mar. e nua um livro sobre a tua barriga. essa sala com lareira. chuvendo escritas inapagáveis. porém suavizadas num beijo. um beijo qualquer.

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Inquilinos e sapatos

Evito os sapatos de tacão alto.
não, porque não goste de entrar numa sala cheia de gente e ter uma visão arranha-céus.
os meus tornozelos são uma zona muito frágil desta cidade de carne que eu sou, onde se instalaram inquilinos, guerreiros escondidos.
inquilinos que gostam de ver o sol pelos meus olhos e como persianas suas, obrigam-me a uma sombra às vezes, prolongada…
e eu aproveito para dormir. amanhã, quando e se as persianas se abrirem, vai chover também dentro de mim, pergunto a vós, gente que pinta cidades, cidades de carne.