sábado, maio 22, 2004

Quando o telefona toca boa noite-parte II

Ouvir os factos, uma, duas …. as que forem necessárias.
Desapropriar-se dos factos.- centrar nos sentimentos.
Perceber uma palavra que requer uma pergunta.
A busca da compreensão, do entendimento, de carinho.
a diferença.
quantas vezes pensamos que o que nos vai motivar motiva as outras pessoas.
outros esquemas de raciocínio, outros sentires.
Acalmar estados de desânimo olhando para quem nos está à frente.
Erros de percepção são contínuos e de conjecturais passam rapidamente a estruturais.
Perceber ciclos viciosos, tentar quebrá-los. Opinar no devido contexto.

E quebrando o mito: já pensou em suicídio?
As respostas às vezes não são tão evidentes.

Não julguem este texto como uma receita.( compreensão peço eu).Não sei. Mal de mim. Tentei codificar conhecimento tácito a conhecimento explícito.
Quantas vezes a chamada cai…com a frase vai ser hoje.
E o silêncio é o nosso companheiro …até o telefone tocar outra vez.

( os amigos andam deprimidos, a família anda deprimida, não sei se é a aura que me envolve, não sei se acontece isto com vocês, mas quase diria que esta primavera neste país começou assim)
(não há nada como generalizar a coisa, repeti-la várias vezes para acabarmos por acreditar com veemência_______sorrisos)

Quando o telefone toca boa noite? - Parte I

Acto I: - A mentira piedosa
(J. é apaixonada por P. com quem está casada)

J.: Estou muito triste, o P. mentiu-me…
Thelma: Sim (de quem está minorando o problema e já viveu tantas situações semelhantes) Então?
J.: disse-me que tinha ido a Braga sozinho e foi com uma empregada…
Thelma: O quê? (…surpresa… de quem começa a suspeitar que a situação se vai complicar)
J: Aquela sabes… que em tempos tinha desconfiado…foi a semana passada em trabalho e passou lá a noite…

Thelma: oh! (silêncio de quem já viu mais situações e que podia esperar isso de todos os casais, menos vindo deles) E como soubeste?

J: Bem à noite liguei-lhe, tocou mas não me atendeu. Passado um pouco, ligou-me e disse-me que estava a jantar sozinho num restaurante sem rede. Desconfiei, conversámos e desliguei. Aguardei um pouco e voltei a ligar… nada… No dia seguinte, quando regressou fui à carteira dele… encontrei a factura dum jantar de lagosta de 30 contos…

Thelma: E então, falaste com ele?…

J: Confrontei-o… disse-lhe que o que mais me magoava é ele me mentir… queria saber por ele o resto… nada… negou até ao fim…

Thelma: Mas passou-se algo mais?

J: Não. Tenho a certeza que ela nem sequer faz o género dele…mas sabes o que não suporto mesmo é ver que a pessoa com quem estou há mais de 10 anos, me mente… descobri que o P. não é o homem com quem eu me julgava casada.

Thelma: Teve falta de coragem de assumir que necessitou de fazer um pouco de flirt… percebo que te sintas decepcionada, mas é um pouco normal… tem calma…

J: Sabes, não me quero separar aos 50 anos, pensado que perdi os melhores anos da minha vida com um homem que não era o que eu queria… Quando nos casamos, prometemos assentar a nossa relação na confiança, na sinceridade, na honestidade… Sempre acreditei que até poderia ser possível, ele se apaixonar por outra pessoa, mas que teria a frontalidade de me dizer e me permitir viver uma nova vida… agora estou segura que ele nunca me contará…a não ser que se queira ir embora… descobri que temos valores diferentes… e já não o quero… tenho dormido na sala…

(A conversa estende-se … até que P. chega a casa e J. desliga… Thelma vai para casa… no caminho recebe uma mensagem… quando puderes telefona para saberes das novidades do cabrão do L. )

Acto II: - A traição

(M. é separada há 1 ano e meio, vive com dois filhos e com um namorado há 3 meses)
Thelma: Então M. o que se passa? (voz de preocupação e de quem acabou de ouvir uma e se prepara para ouvir a segunda…)
M: Arranjou outra e pu-lo fora de casa…
Thelma: Mas como é que se passou isso tudo?
M: Olha, comecei a reparar que enviava SMS em casa... chegava tarde… muito trabalho… descobri tudo…
(a conversa estende-se, o telefone sinaliza uma chamada em espera…)
Thelma: Desculpa, dá-me só um minuto tenho a J. a ligar-me e sabes está com problemas com o P. Ligo-lhe rápido e já te ligo)


Acto III: - A Guerra dos Sexos

Thelma: Então? Estás sozinha?
J: Sim. o J. saiu para ir comprar o jantar..
Thelma: Ah sim? (esperança que as coisas se tivessem composto…)
J: Sim, chegou a casa e perguntou o que era o jantar… respondi-lhe que não havia… que estava à espera que ele trouxesse lagosta…

(Thelma e J. falam mais um pouco. Entretanto, Thelma chega a casa e aquece qualquer coisa para jantar, no micro-ondas. Depois desliga e volta a ligar a M.)

Acto IV: - Os filhos
(Thelma volta a ligar a M que tem o T. com 6 anos e o D. com 3)
Thelma: Desculpa… estavas a dizer-me que já tinhas dito aos teus filhos que o L. tinha saído…
M: Pois o T. chorou mas falámos… o D. sabes, ainda é pequeno e não se exprime tão bem…
Thelma: O T. ficou bem?
M: Sim, agora sim. O D. é que anda inseguro e requer muita atenção… acho que só agora sente a separação do pai…

(Thelma e M. conversam. Entretanto toca o outro telefone)
Thelma: Desculpa… espera… deixa-me só ver o que se passa…
….
Thelma (noutro telefone): Agora estou ao telefone, já te ligo, está bem?


Acto V: - A Falsa auto-suficiente
(C. é solteira, independente, formosa e inteligente)
C: Estou deprimida mas ninguém acredita…
Thelma: Oh minha querida mas tudo te corre tão bem… tens sucesso profissional, és uma mulher interessante, inteligente…
C: Pois isso é bom mas não é suficiente…sinto um vazio…e ninguém vê isso…
Thelma: Oh minha querida e o que é que eu posso fazer por ti? (sensação de impotência)
C: Faz-me rir…


Acto VI – Balanço do dia

(meia-noite - Thelma e Louise conversam sobre o seu dia e sobre todos estes dramas … riem no meio desta confusão … decidem contar-vos isto… Thelma liga o computador, enquanto espera … toca novamente o telefone…)


Acto VII – A irmã mais nova
S: Olha, agora estou em Sesimbra e o frigorifico não funciona…
Thelma: Mas o que é que se passa?
S: Sei lá, eu não sou electrotécnica… E agora, como guardo os Muffins?

segunda-feira, maio 17, 2004

Tentando escutar o silêncio

O estar ajusta-se à superfície dos dias
o corpo manso caminha sem pés
Aprendi a seguir adormecida
tão alheia que nem de mim sei

será medo de não encontrar
o que nem sei que desejo

domingo, maio 16, 2004

...........

desenho a curva da indiferença.
marco a lápis o ponto a, depois o ponto b e depois o ponto c.
sei que a teoria me diz que o grau de satisfação é o mesmo e que a indiferença é isso mesmo. não sei a razão do desvario na escolha de um deles para me sentar.
vou começar outra vez .
desenho a curva da indiferença, convexa,
mas vou mudar a inclinação e traço-a mais longe da origem.
(começo a desenhar o mapa da indiferença, nenhumas das curvas se poderá cruzar e não existem tangentes)
mostro o meu desenho como fazem as crianças e digo tinhas razão.

Existem musas que escrevem assim

A Experiência da angústia

Se olhares para dentro de ti,
vês as ruas desertas de vestígios
e os prédios que habitaste
limitarem pracetas sem ninguém,
sem velhos exilados e sem pombas,
de estátuas derruídas,
e os idos, os amigos que perdeste,
as imagens da infância, o rio, o riso,
a casa, a tua mãe que morreu cedo,
os deuses que julgavas
serem em ti a eterna juventude,
o amor que te entristece haver perdido.
Vês o que não te salva
se te fitares assim, se não vires o sol
no casario branco
iluminar os olhos e devolver
às nítidas imagens do presente
as árvores, a estrada, a luz,
que só com elas podes respirar.

Hands Playing(III)


Gosto de ti e do mundo que te acompanha.

Hands Playing(II)


não tens nome nem idade
sei que escreves no espelho saudade
antevês palavras agora limpa tu para sossegares a alma
sabes, hoje só o homem da tabacaria pode trocar palavras contigo
acarinhas o barro como o farias nos cabelos de uma mulher.