As we are now (May Sarton)
Como és agora, assim fui em tempos;
Prepara-te para a morte e segue-me
(pedra tumular em Nova Inglaterra)
sexta-feira, janeiro 23, 2004
Mãe
enviou-me um livro.
escreveu assim:
não é importante o que acontece.
importante é o que acontece dentro de nós desse acontecimento.
a minha mãe.
quinta-feira, janeiro 22, 2004
casa
onde regresso quando já não há futuro. o silêncio tão perto que quase me sossega.
onde me salvo da loucura do efémero. território onde navego.
terça-feira, janeiro 20, 2004
Escrever fora de casa(V)
depois de Mão, imagem do Wilson
sabes,
a recordação de um sorriso de menina.
enroscada no sofá.
a olhar para a mão.
a sobrepor a mão dela.
a morder a mão.
a língua no caminho das linhas.
a levar a mão para afagos.
a segurar o pulso.
a olhar para a mão.
o contraste dos anéis da menina no brincar com a mão.
e a mão a dizer que não, não, a sorrir, a rir.
e a tornar-se outra vez senhora de si.
a agasalhar a mão da menina.
sabes
segunda-feira, janeiro 19, 2004
domingo, janeiro 18, 2004
Intíma partilha
(Posso
Podes
São gotas
Gordas
Que caem
Nos meus dias de calor
Em que estendo o rosto para elas
não aches risível
gostar de as sentir na língua)
______________________Talvez a minha mão suada
(Posso
Podes
São gotas
gordas
Que caem
Nos meus dias de frio
Com a boca aberta, língua vermelha, para mitigar a voz)
Talvez não precise de dizer nada_________________________
_______________________Te feche os olhos em movimentos circulares
_______________________porque de sentires sono tens saudades.
Porque me calas com a tua língua fresca ____________________
A repousar.________________________________________________
A mão suada deixa no banco de jardim o livro que a voz grave por gosto lia: “ qual é a minha ou a tua língua”.