sábado, julho 02, 2005

Avenida de Merda
coberta de pó levantei o braço, retirei a caneta agarrada à secretaria por teias de aranhas tão belas e escrevi-te___
a ideia era acordar-te com um beijo depois do cabelo lavado
não reparei no morcego que assustado com a água me atacou e entonteceu.
bochechei várias vezes com reach pois mordi a gengiva com medo.
mais tempo perdi, na explicação ao morcego que este não iria perder a casa só um pouco de atenção.
quando pronta estava e me aproximei de ti__deves ter sentido um cheiro a cadáver__viraste-te para o outro lado ficando a repousar no lado quente da cama um deixa-me dormir .
sem remedeio, saí para a rua de cabelo lavado na procura de tabuletas ___como amestrar o seu morcego_____
encontrei outros iguais a mim, gente à procura de tabuletas___fartei-me de repetir______faça favor de entrar, estava primeiro!!
não suportando a indiferença o morcego abandonou-me. sem remedeio e sem morcego encontrei outros iguais a mim, gente à procura de tabuletas______como viver sem o seu morcego.
foi só aí que descobri que estava numa avenida de merda. até tinha penicos e mandarins.

voltei a casa e deixei-te um bilhete :o cheiro não era a cadáver era a merda. a cidade está cheia de avenidas de merda. mudei-me para o campo.

quarta-feira, junho 29, 2005

Procurei-a.
Onde se terá resguardado esta mulher da chuva imaginária. Os seus pés na areia estavam circulares e a rebentação das ondas desviava o olhar para longe. Como aquela página que se lê e lê e volta a ler sem conseguir ler nada. Sabemo-nos no lugar errado para a procura. Algo estranho domina o nosso corpo e diz-se psicossomático. Ou talvez exista uma alma algo perdida deambulando a noite extrema a fronteira. E essa vagabunda é apenas tudo. Um assomo de vontade férrea atómica tão invisível quanto verdadeira e poderosa. A palavra feita um gesto de impossibilidade daquilo que nos é consciente. Que porcaria devia estar eu a fazer agora. E nada posso. Mas ouço o mar sempre o mar como se estivesse encostado com o ouvido a um búzio. Afinal a praia inventei-a e não sei de nada nem ninguém.Onde foi aquela mulher amante de fim de tarde e de varandas. De livros e sexo. Fuma-se um cigarro sempre um cigarro quando não se sabe o que escrever e julgamos poder escrever. Mas ouço o mar sempre o mar e sozinho em círculos consumo-me afogado nesta chuva imaginária. Mais uma humidade tensa e espessa que se abate cinzenta e redutora sobre a tarde. Mas o mar sempre o mar. Um mar profundo e ao longe o gemido de baleias.Onde estará a palavra sentido.
Wilson T
(saudades. podia dar-te mais vezes__sorriso com um beijo)