sábado, dezembro 13, 2003

Kilimanjaro



Nessa noite enquanto ouvia acordado as hienas a disputarem os restos da carne e olhando a luz da fogueira pela porta da tenda pus-me a pensar em Mary que agora dormia profundamente feliz com a bela caçada e o tiro certeiro no gnu e a interrogar-me por onde andaria o leão grande e que estaria a fazer neste momento no escuro. (...) Depois, por momentos, deixaram de se ouvir quaisquer ruídos na noite.

Verdade ao Amanhecer - Ernest Hemingway

É com estes cheiros e sons que me escapo à realidade diária. Apetece-me viajar, apetece-me lá ir no início do próximo ano.


terça-feira, dezembro 09, 2003

o meu tigre é mais novo e também já me tentou atacar ( isto cá entre nós)
A origem do amor voltou.

Confesso que vivi

(estou no banho a lavar o cabelo. levo um tempo enorme. fico à espera que estranhes. finalmente entras, arregaças as mangas e passas-me o champô na cabeça.
Enrolas-me no toalhão, e então aí começas a falar. Ao som do secador, com as tuas mãos nos meus cabelos contas-me a história de Omar Vignole)

Vignole fora agrónomo numa província argentina e trouxera de lá uma vaca com a qual mantinha amizade entranhada. Passeava por Buenos Aires inteira com a vaca presa a uma corda . publicou então alguns livros que tinham sempre títulos alusivos: Lo que piensa la vaca, Mi Vaca y Yo,…..
Quando se reuniu pela primeira vez naquela cidade o congresso do Pen Club mundial, os escritores, tremiam ante a ideia de o ver chegar ao congresso com a vaca.


(agora sacodes a minha cabeça, e enquanto me vestes a camisola-pijama, ouço a tua voz baixinho: )


Explicaram às autoridades o perigo que os ameaçava e a polícia isolou as ruas em torno do hotel Plaza a fim de evitar a entrada, no luxuoso recinto, Vignole com o seu ruminante.
tudo foi inútil, como supões Lõ, quando a festa estava no auge e os escritores examinavam as relações entre o mundo clássico dos gregos e o sentido moderno da história, o grande Vignole irrompeu na sala de conferências com a sua inseparável vaca, que para mais começou a mugir como se pretendesse a entrar no debate.
Trouxera-a até ao centro da cidade dentro de uma enorme furgoneta
(e pegas-me ao colo) fechada (e cobres-me já deitado ao meu lado) que iludiu a vigilância policial.

Mas tenho mais histórias do Vignole, Lõ (e ouço o teu riso baixinho por debaixo dos lençóis. E eu repito Pablo, Pablo, Pablo__________

loucos de Inverno)



segunda-feira, dezembro 08, 2003

Virgula

As palavras voam, dispersam-se. Tento arrumá-las, ordená-las. Mas falta-me a virgula. A que dá leveza, alegria, ritmo, sabor, ligação, respiração. Não a vou procurar, nunca a procurei.

Se não a encontrar, se ficar aquém, sei que aparecerá, o ponto final.

domingo, dezembro 07, 2003

Click

Sentada no piano tenho à minha volta os sábios que me convidaram para cobaia. mantenho uma cara séria, quase apática mas sorrio por dentro. Isto tudo porque não quero ser a , sei que serei a tua vira-pautas.
E vamos tocar Mozart, e eu não queria aquele piano , queria o pianoforte.

Os sábios assertivos, excitados, exclamam que neste compasso eu devia subir as escadas, e surpreender quem está lá no cimo, mas não consigo. ou apareço tipo mulher matrona não convidada, ou ninguém dá pela minha presença. Insistem, repreendem os meus dedos, o meu pulso mal colocado. e lamentam umas mãos esguias e comprimidas.

mulher, este momento era de orgasmo!

mulher, não desesperes, é uma questão de click.

devaneios expostos ao frio.

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no museu de música de Lisboa, uma mulher ao lado do pianoforte provoca os casais.
nunca mais esquecerá o click, o seu companheiro de uma vida.

(no próximo concerto, é ela que organiza os convites, te prepara a apresentação multimédia que acompanhará a tua música e será a tua Vira pautas.
depois depois volta para o seu click, e utiliza o ouvido não para descortinar se o tom é menor ou maior, mas para escutar o choro dos homens)