quinta-feira, janeiro 15, 2004

triste velhice num lar de idosos

compartimentos regulares de aspecto corcomido, nos melhores casos, higiénicos, frios, cheios de seres aguardando a sua morte, sem ocupação para além da prostração em frente ao ecran da TV e a comida de 3 em 3 horas. sempre à mesma hora, sempre a mesma rotina. solidão que carece da dignidade do verdadeiro isolamento. e a morte teimosamente suspensa no ar.

visitas? as abelhas zurzem atordoadas e distraídas no labor diário.

sugar o tempo, forçar o presente a desembocar no passado, surge com a única fuga. recorda-se a mãe, os irmãos já idos, ou simples acontecimentos passados como se fossem presentes, actuais.

por mais filhos e amigos que se tenha tido, no fim tornamo-nos uma família tão pequena. e a morte teimosamente suspensa no ar.

quarta-feira, janeiro 14, 2004

El Silencio

No digas nada, no preguntes nada.
Cuando quieras hablar, quédate mudo:
que un silencio sin fin sea tu escudo
y al mismo tiempo tu perfecta espada.

No llames si la puerta está cerrada,
no llores si el dolor es más agudo,
no cantes si el camino es menos rudo,
no interrogues sino con la mirada.

Y en la calma profunda y transparente
que poco a poco y silenciosamente
inundará tu pecho de este modo,

sentirás el latido enamorado
con que tu corazón recuperado
te irá diciendo todo, todo, todo.

de Francisco luis Bernárdez

Fujiyama

Eu não conheço bem o DSM, mas existe lá a "síndrome do Fujiyama" ?

(vulcão japonês coberto de neve que no seu interior referve de fogo e lava)

domingo, janeiro 11, 2004

Que Bom (II)
Palavras que me deixaram com um sorriso. Belo texto. Obrigado. Beijo.

Entro.

entro adormecendo meu ser para ser tu. vais sentir-me como se fosse uma parte do teu corpo perdida há algum tempo no esquecimento. nesse sítio nenhum tão presente. voltarei sem nunca partir nem abrir malas. será suficiente abrir-me para ti. talvez. talvez possas devagarinho ser capaz. talvez possas emprestar-me uma t-shirt tua se tiver frio. talvez possas deixar-me tomar banho e vestir essa t-shirt branca. deixo-te andar núa pela casa com a minha camisa. quero ver-te em mim ao pequeno almoço. antes de sair para ler o jornal aí pelas ruas do Outono. deixo-te só com aquela música para te espreguiçares para além de qualquer limite.

Wilson T, comentário a Devagarinho

Que Bom (I)
Palavras que me deixaram com um sorriso. Obrigado meu herói. Beijo.

Não te chamo pequenina... Como posso fazê-lo a alguém que toca as estrelas? Que aproveita a sua luz para encher o vazio negro dos espaços mais profundos deste mundo? Cuja alma tende para o infinito e cujo coração é o maior que alguma vez tive oportunidade de vislumbrar? Não te chamo pequenina... Não isso, não... Não, isso não é adjectivo para ti!

Ulamonge, comentário a Não me chames pequenina.

Escrever fora de casa (IV)
não digas depois de mãos

eu amo as tuas veias salientes.
o polegar fica entretido com o subir
e depois deixa-se cair.
como se a tua mão fosse um terreno,
com socalcos, montes,
nunca o deserto.
( não digas vazio, diz que são poros, diz que a pele precisa de respirar)


mãos de Wilson T
Uma mão encontra a outra afagando-se suavemente no delírio das ausências. Sentindo-se sentem o espaço entre si. Há momentos de vazio até no toque de duas mãos que há muito se conhecem. Talvez por isso. Talvez. Porque há entre elas tudo aquilo que lhes foge. Há muito que querem o tacto do mundo. Das coisas. Dos seres. Mas onde raio para essa sabedoria toda. Não sabem.

Escrever fora de casa (III)
Depois de Sem néons, no Aoeste

eu juro que me lembro
do meu vestido branco
descer estas escadas,
(aquela ali, onde estás estátua)
como soubesse voar
e tu trôpego,
animal escorraçado
calções roçados
ainda assim eras mais belo do que eu

Escrever fora de casa (II)
Xangô me mandou lhe dizer

Foi mais uma noite indecifrável
Com mistura de sangue venoso e arterial
Falava baixinho com os lábios colados
E os olhos turvos faziam bolas de saliva
Foi mais uma noite indecifrável na minha casa vazia

(A minha casa é o meu corpo)

Escrever fora de casa (I)
Depois do texto , de Miss Jones

a solidão já não sabe brincar sozinha.
o vazio vomita a angústia do nada,
as lágrimas humedecem o corpo seco
o corpo corroído, com esforço enrola-se em si

até quando?
vamos trocar as horas do relógio que este tempo está lento


Só.
E como é que se arranca a solidão de dentro de nós?
E como é que se ocupa o espaço do vazio que vai ficando?
E como é que se volta a acreditar?

E o que é que se faz com as lágrimas?
E com o corpo corroído?

Sepulta-se?
Miss Jones